terça-feira, 12 de novembro de 2013

DÉCIMO PRIMEIRO DIA

Domingo. 10.11.de 2013. Décimo primeiro dia de minha hormonização.
Um dia chuvoso. Meditativo. Me pego a pensar em tudo isso. Neste processo todo a que me lancei por inteira. Pareço sentir que o Márcio dentro de mim aos poucos vai se dissolvendo, dando lugar á Márcia, uma mulher que sempre reivindicou o seu lugar, seu espaço. Penso que agora ela vai ter a sua oportunidade de existência. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço e matéria. Contudo, sei que este poderá ser  (e certamente o é) uma decisão irrefutável. Cumpri aqui o meu papel de homem que sempre viveu em um turbilhão de dúvidas, e agora dou vazão á minha função de mulher. Ás vezes me sinto sozinha sem poder compartilhar toda esta experiência com amigos mais próximos e isto me angustia muito; que ainda vou passar por muitas situações vexatórias, mas creio nas consequências positivas. Aposto no amor. Sigo resoluta - com meus pequenos temores é claro - o que me parece relativamente natural. Só o tempo vai mesmo me dizer se cometi um erro ou não. Os caminhos são muitos. As escolhas são feitas. Fiz a minha escolha.
Ah, este vento noturno e dominical que me sopra o rosto agora. Este meu silencio meditativo e único. Impeço que a tristeza e as dúvidas me invadam. Todo domingo é triste por natureza. Acho que foi Drummond que afirmou que quem inventou o domingo foi Deus em um dia de extrema melancolia. Mas ás vezes ficar triste é um paliativo necessário à essência humana. Ajuda a refletir melhor e mais profundamente sobre a vida.
Ando sensível, gente... O passo que dou é imenso e decisivo...

domingo, 10 de novembro de 2013

PLANOS PARA OUVIR RAVEL

PARTE II

O CAMAROTE

Subi nervosíssima a rampa do Teatro Amazonas e me dirigi à porta de entrada. O porteiro me lançou um breve olhar indagador mas, não disse nada. Entrei. Ainda faltava meia hora para o início do concerto. Aguardei no hall do Teatro juntamente com um número já considerável de pessoas que também ali puseram-se a esperar. Umas poucas pessoas lançavam-me olhares especulativos, outras fingiam ser normal a minha indecifrável presença ali. Procurei agir da forma mais natural possível e, portanto, pus-me a caminhar bem á vontade ao longo do hall. Houve um momento em que resolvi tomar um pouco de ar  na parte externa do Teatro que nos proporciona uma bela vista para a Praça São Sebastião, àquela altura, tomada de gente. Escorei-me á amurada para apreciar o movimento  das pessoas lá embaixo. Senti uma leve brisa acariciar-me o rosto, espalhando o meu doce perfume de fêmea em derredor. Sentia-me livre. Uma mulher de fibra. De coragem. Afinal, pensei novamente, eu não estava fazendo nada de errado, estava? Só vim ao Teatro para assistir Ravel. Foi quando ouvi aproximar-se de mim, uns passos firmes e fortes de um sapato.  Olhei para o lado. Um senhor alto, de seus 50 e poucos anos, bem apessoado - elegante - estava ali parado, olhando para a mesma direção. Cogitei que fosse apenas alguém que viera tomar um pouco de ar como eu, e olhar a paisagem. Mas aquele homem passou a encarar-me discretamente. Tive a leve impressão que ele avaliava-me dos pés á cabeça. Não tardou para ele puxar assunto:
"Que noite hein?" Sorri. "Você  é daqui mesmo?"
"Sim, sou." Virei-me para ele. Penetrava-me com seu olhar. Era um senhor de fato elegante . Branco e bem mais alto que eu. Senti um tremor no corpo todo quando o vento soprou-me novamente o rosto, desalinhando levemente a franja dos meus cabelos cuidadosamente penteados.
"Sou de Piracicaba. Estou á Manaus à trabalho. Sou engenheiro químico. É uma bela cidade e vocês tem um belo Teatro."
"Ah, obrigada." Disse-lhe. Retribuiu com um sorriso sereno e voltou a olhar a praça novamente. Esperei que ele dissesse algo mais, mas ele então se afastou. Na certa  - pensei - descobriu que eu não era mulher, e decepcionado, partiu. Pouco importa. Eu não estava ali para ser cortejada e nem esperar algo de ninguém. Contudo, ao me ver fatigada de olhar aquela paisagem, e já preparando-me para adentrar ao teatro, ouvi os passos outra vez daqueles sapatos austeros se aproximando bem devagar. O tal senhor estancou novamente ao meu lado, e desta vez, acendendo um cigarro, me disse:
"Fuma?"
"Não, senhor."
"Por favor, nada de senhor. Meu nome é Mauro. Mauro Salles. E o seu?"
"Márcia. Márcia Santana." Dei-lhe a mão para cumprimentar-me. Demorou-se no cumprimento, segurando-a com certa gentileza. Era sem dúvida, um gentleman.
"Então, Márcia, sempre vem ao Teatro?"
"Para ser franca, muito raramente."
"E o que a fez vir hoje ao Teatro?"
"Ravel, é claro. Adoro Ravel."
"Hummm...Somos dois. Também adoro Ravel. Na verdade, adoro ópera. E Ravel é o meu compositor predileto. Também sou apreciador de Vivaldi e Mozart. Algumas árias e sinfonias de Bethoven também me deixam encantado."
"Sério? Como a nona?"
"Sim, a quinta e a velha nona..."
 Eu não estava acreditando no curso daquela conversa. Eu ali, diante de um homem finíssimo e certamente culto cuja predileção musical e gosto casavam perfeitamente com os meus.   E o que era de mais estranho, é que o tal senhor parecia não fazer alguma objeção quanto ao fato de eu não ser uma mulher. Já devia ter percebido, é claro. Não era nenhum bobo. Aquilo, por certo, deixou-me intrigada, mas coloquei aquela questão de lado e dei margem para seguirmos com a conversa. E naquele meio termo, dialogamos docemente sobre variados assuntos envolvendo música e outras artes em geral. Foi quando ouvimos o som da sineta conclamando o público para adentrar a sala principal do Teatro. Pois que o concerto enfim, se iniciaria.
   Ele seguiu ao meu lado, sem cerimonias, e antes de nos separarmos, ele me disse:
"Olha, eu estou nesse camarote. Fica no terceiro andar. Disseram-me que tem uma ótima vista. Não quer acompanhar o concerto comigo?"
"Mas é que..." O que eu poderia lhe dizer.
"Mas é que o quê? Estou sozinho, não haverá problemas." As pessoas tomavam seus assentos devagar. Estávamos como que bloqueando a entrada do público. Eu tinha que pensar rápido.
" Vou pensar se vou, oquei?"
"Pense bem, meu anjo. Vou lhe aguardar! Camarote treze. Terceiro andar."
     Nos despedimos.
Tomei meu assento, ofegante, depois daquele encontro. Fiquei pensando se ia ao seu encontro ou não. Olhei discretamente para cima antes da segunda sineta tocar e das cortinas se abrirem. Meu coração palpitava. O concerto duraria duas horas e seria dividido em três atos. Aquele senhor estaria lá em cima, sozinho em seu camarote, me aguardando. E ele não estava brincando. Que chic! Parecia coisa de cinema ou uma obra de Flaubert. A sineta tocou outra vez e as luzes se apagaram. Um silêncio se fez. É claro que o concerto abriria com o famoso Bolero de Ravel que inicia suavemente e vai crescendo, crescendo, crescendo e tomando conta da nossa alma. A versão original é de 12 minutos e é como um orgasmo divino, duradouro, exepcional. Quem nunca ouviu Bolero de Ravel, eu aconselho a ouvir. É como se sentir no céu rodeado de anjos lindos te acariciando o corpo inteiro. Depois do Bolero, mas três árias e o  break de dez minutos. Deixei o meu lugar e fui para o hall onde eles costumam servir um chazinho com biscoitos. É como se sentir em uma parte da Europa. Uma Europa cravada nos trópicos. Segue-se à risca todos os costumes do Teatro europeu Não esquecendo que Manaus, em pleno ício do século XIX, imitava os costumes e modos da Europa. Tudo era exportado de lá. Até a forma de pensar. Uma cidade com modelo europeu. Entrar no Teatro Amazonas é como voltar aquele tempo. O tempo áureo da economia da Borracha. Aquele monumento exuberante era um resquício do que foi Manaus no passado. Eu divagava sobre aquilo quando aquele  senhor aproximou-se outra vez. Quase derrubei a xícara de chá quando ele abordou-me com sua voz grave e austera:
"Então, que está achando de Ravel?"
"Ai, desculpe! Bom, é maravilhoso."
"Sabia que a origem do Bolero surgiu do pedido de uma dançarina Húngara chamada Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação dessa música para um balé clássico á moda espanhola?"
"Não, não sabia. Me conte."
"Ele imediatamente pensou num conjunto de peças para piano e estava ali pronto uma  obra maravilhosa. Na época, causou polêmica porque em cima da música, a tal dançarina criou uma coreografia sensual, erótica... Repare que ela começa devagar e vai aumentando gradativamente..."
"É como um orgasmo que vai crescendo dentro da gente... Ai, me desculpe! Essa minha língua."
"Não se preocupe, meu anjo, você está certa. Esta é a melhor definição para o Bolero de Ravel. Um orgasmo crescendo até explodir dentro da gente..."
Rimos os dois. Não demorou para a sineta tocar e todos devagar foram adentrando a sala principal e tomando seus assentos.
"Vamos?" Eu disse.
"Um momento! Não vai me fazer uma visitinha em meu camarote? Ainda lhe aguardo." Como de costume, mordia os meus lábios inferiores demonstrando bastante dúvida. Aquele homem me queria. O que eu poderia fazer? Ah, Márcia, sua tonta, só se vive uma vez na vida. E a vida são riscos oportunos. Refleti.
"Han?"
"Sim. "
"Sim o quê?"
"Irei bem rapidinho, oquei?"
"Então ficarei lhe aguardando."
Tentei me concentrar direito no segundo movimento da ópera, mas só de imaginar que eu poderia estar ali, envolvida nos braços daquele cavalheiro educado e sedutor, eu me perdia em meu equilíbrio mental, e num súbito, levantei-me e me dirigi ao camarote treze. Antes passei no banheiro e retoquei bem a maquiagem, passando aquele batonzinho básico. Estava divina. Atravessei um corredor amplo e escuro e subi as escadas que levavam à parte superior do Teatro. Havia uma fileira interminável de camarotes que faziam o contorno de todo o teatro. Fui procurando o camarote Treze. Lá estava ele. Bati de leve. Uma única batida. Uma doce batida. Meu coração soava descompassadamente. A porta se abriu e aquele senhor prostrou-se a minha frente abrindo um sorriso encantador:
"Entra minha flor, eu estava lhe esperando." Entrei. Confesso nunca ter entrado em um camarote daqueles. Era pequeno, aconchegante e climatizado. Sem dúvida que tinha uma bela vista e aquele em particular, pegava um ângulo perfeito do palco.
"Gostou, princesa?"
"Tem uma vista panorâmica perfeita."
"Privilegiada eu diria. Mas fique á vontade. Até vinhos eles servem. Gosta de vinhos?"
"Nossa, adoro.Mas por que está fazendo isso?"
"Isso o quê?"
"Me convidando para cá, ah sei lá..."
"Gostei de você. Desde a primeira vez que lhe vi entrado neste Teatro. Estava sozinha e bastante nervosa. Não sei se por causa de Ravel ou por outro motivo."
"Certamente por outra coisa. E você deve saber o que é."
"Não não sei, e a mim não interessa. Mas e agora? Está mais relaxada?"
"Sim, mais segura. Obrigada!"
Aí ele nos serviu dois cálices de vinho, e ficamos ali degustando daquela suave bebida enquanto ouvíamos o segundo movimento. Era como um sonho. Eu só podia estar dentro de um sonho. Senti quando suas mãos desceram de leve a minha coxa. Ele agora me puxando para perto de si, cheirando-me o pescoço, falando-me umas coisinhas paternais no ouvido. Como resistir a tudo aquilo. Fui me deixando seduzir por aquele homem forte e ligeiramente grisalho. Tomou de assalto meus lábios enquanto suas mãos grandes e suaves agarravam-me as partes internas da coxa.Ah, Ravel, tua sinfonia é maravilhosa. Divina. Bálsamo para a carne e o espírito.
"Você é tão linda, tão cheirosa, Márcia..." Ele me dizia mordendo-me de leve o lóbulo da orelha. Saltei uns gemidinhos para deixá-lo mais enlouquecedor. Eu estava entregue aquele abraço forte e viril. Tocava-me os seios, mordiscava-os por sinal. Como controlar-me se já estava inteirinha entregue aquele homem sedutor. Iríamos transar ali mesmo, naquele camarote. Meu Deus! Que loucura! Ele levantou o meu vestido e passou a acariciar-me as costas largas descendo em direção ás minhas nádegas. Pegou-as com vontade, enterrando lentamente um de seus dedos no meu buraquinho que já dilatava de tanto desejo e tesão:
"Quero você, mocinha!"
"Ai, não, por favor, aqui não."
"Aqui sim!"  Não resisti e me pus de joelhos, abrindo logo em seguida o zíper de sua calça e abocanhando o seu imenso e duro pênis que já se mostrava enfurecido, pronto para ser sugado. E eu o suguei sofregadamente. Fiquei de quatro, com o vestidinho levantado, a bundinha a amostra enquanto o chupava vorazmente aquele seu imenso mastro ao som de Ravel que tocava magistralmente tornando aquele momento um momento sublime e maravilhoso. Enquanto eu o chupava, ele me olhava superiormente com aqueles olhos de homem que enfim, domou e seduziu a sua putinha e que agora usufrui dela o que lhe é de direito.
"Chupa! Chupa bem chupado! Esse pau é seu, mocinha!" Fazia o que ele mandava. Chupava ora com delicadeza, ora com selvageria. Ele me olhando sempre sério do alto de seus cinquenta e poucos anos. Um coroa magistralmente lindo. Senhor de si e de mim.
"Está gostando, minha putinha?" Não podia nem falar com aquele imenso falo entalado em  minha boca. Mas consegui lhe dizer que sim. Que estava adorando.  Ele retirou o seu membro de minha boca e com ele, deu-me alguns tapinhas e esfregou-me o rosto todo. Depois meteu de volta à boca e ordenou que voltasse a chupar. Eu prontamente obedeci. Estava de quatro e totalmente submissa aquele homem.  Houve um momento em que ele puxou-me levemente pelos cabelos e ordenou que eu o beijasse a boca. Assim o fiz, provando de seus lábios com gosto de vinho. Depois voltei a minha posição de cadelinha e tornei a chupá-lo. Enquanto eu o chupava, ele olhava a ópera como se nada tivesse acontecendo ali, naquele camarote. Já estava chegando no final do segundo ato, e já lhes adianto que não arredamos o pé daquele camarote um só momento durante a trepada, ficamos ali trancadinhos comigo fazendo o serviço todo. Quando ele já estava com o seu pênis em brasa, super duro, pediu para comer meu cuzinho. Eu então, antes do início do terceiro e último movimento de Ravel,  sentei em seu colo e fui atravessada pelo seu enorme pênis duro que encaixou-se direitinho em meu cuzinho. Ah, como foi gostoso movimentar-me para cima e para baixo naquele membro duro, ao som de Ravel, sentindo aquele homem saindo e entrando dentro de mim. Fui me sentindo uma puta absoluta e soberana, sendo enrabada na surdina em pleno Teatro Amazonas. Saltava gritos lancinantes que se confundiam com os tambores e violinos de Ravel. Ninguém iria escutar mesmo. Todos lá embaixo estavam hipnotizados. E eu ali sendo comida. Eu montadinha naquele homem forte e viril beijando-me selvagemente os lábios de vinho e também meus peitinhos. E eu aí então, sentindo o gozo se aproximar, abracei aquele homem bem forte e deixei que ele me penetrasse ainda mais fundo, e eu então gozei... gozei como nunca tinha gozado antes em toda minha vida...Um gozo lancinante, arrebatador que não sei se conseguiria descrever pormenorizadamente aos senhores...E coincidentemente, o gozo que nos invadiu, foi bem no momento da parte final do terceiro  movimento, parecendo que tudo foi perfeitamente cronometrado. Essas coisas que a gente não explica e que infelizmente parece acontecer só uma vez na vida.
Ele ainda olhou-me sério, mas depois sorriu, beijando-me os lábios delicadamente. Quando isso acontece, é porque ambos fomos completados e atravessados pelo poder do desejo e da paixão.
 Eros e Tanatos.Como se não bastasse, o gentil cavalheiro ainda levou-me para jantarmos em um restaurante que ficava alguns quarteirões dali. Lá, conversamos um pouco mais sobre nós, rimos e a toda hora nos lembrávamos de nossa loucura. Trocamos telefone, e ele prometeu que assim que voltasse de Urucu, onde exercia a função de engenheiro em uma empresa que extrai gás natural, ele me ligaria para sairmos. Antes de deixarmos o restaurante, ele adiantou-se em ligar para um Rádio Taxi para vir me buscar, mas prontamente lembrei-me do maciste, que por certo, estava a espera do meu chamado. Lembram do maciste?  Ele ligou para aquele número, e só deixou minha companhia  quando o taxi parou bem na porta do restaurante para me apanhar. Nos beijamos discretamente, e eu entrei no taxi. O maciste me olhou e me disse:
"Para casa, senhorita?"
"Sim.. para casa, meu bem."
Seguimos. A certa altura, ele pareceu tomar coragem e perguntou:
" E como foi a noite com Ravel?"
"Inesquecível..." Disse-lhe sorrindo.
Única e inesquecível noite, pois aquele senhor que me tornou plenamente realizada e feliz, nunca mais me procurou... Mas a vida da gente é assim mesmo: mágica e cheia de surpresas. Segue doce e lentamente, sem muita pressa. Para que a pressa se a vida da gente afinal é como um Bolero de Ravel...

sábado, 9 de novembro de 2013

DÉCIMO DIA DE MINHA HORMONIZAÇÃO

Sábado. Décimo dia de minha hormonização. Sigo satisfeita. É óbvio que ainda é muito cedo para checar os resultados preliminares. No entanto, todos os dias olho-me frente ao espelho e acaricio minha pele que parece mais alva e sedosa, e os seios mais entumescidos.Não sei se sinto isto movida pelo desejo de logo ver os resultados que ainda estão por vir. Mas sinto-me feliz. Mais feminina.
Ontem saí com uma amiguinha cd e um travesti. Fomos tomar uns chops e colocar os papinhos em dias. Uma noite memorável ao lado dessas duas amigas as quais revelei o meu segredo. Elas adoraram e estão me dando o maior apoio. Angela, a cdzinha, também passa por esse processo de hormonização e me parece que já está em um grau maior, pois já é possível perceber as maçãs feminizadas de seu rosto e os quadris já um tanto largos. Segundo nos revelou, ela vai para o nono mês tomando Andracur e agora injeções de perlutan. Até sua voz já se feminizou e seus trejeitos de mulher são previamente notados. Disse-me para ter paciência e não desistir, se for de fato isso que eu busco. Também falei do meu namorado virtual que virá a Manaus me conhecer e elas ficaram ouriçadinhas e quiseram saber mais...Depois dos chops, já levemente bêbadas e alegres, fomos as três dar umas voltinhas na praça e paquerar um pouquinho. Fez uma noite fria e maravilhosa. Olhei a lua redondamente feliz e pedi para que minha vida seguisse assim daqui pra frente, em perfeita harmonia...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OITAVA DIA DE MINHA EXPERIÊNCIA

Quinta-feira. Oitava dia de minha hormonização. Os dias transcorrem tranquilos. Não tenho descuidado um só instante de minhas dosagens. Ao contrário do que imaginava acerca de minha líbido - se ocorreria uma baixa ou não - não houve nada de excepcional, pois que ela continua normal, tanto é que tenho tido minhas ereções normalmente, antes e depois das dosagens. Ontem mesmo masturbei-me logo depois do telefonema do meu futuro namorado que mora em São Paulo e que virá á Manaus para passar as suas férias e me conhecer. Masturbei-me  e gozei deliciosamente pensando na possibilidade de vir a me tornar a sua mulherzinha, como ele propôs desde o início quando nos conhecemos pelo face. Fiquei bastante preocupada temendo que com isso (refiro-me ao gozo) tenha anulado o efeito das dosagens de ontem, contudo, irei me inteirar direitinho a esse respeito. Não quero que nada interrompa o curso da experiência. Com exceção deste episódio, as coisas seguem normalmente. Sigo otimista, contendo minha ansiedade com o resultado final.
A respeito deste homem que virá á Manaus me conhecer, não tenho criado expectativas que é pra não me decepcionar-me a mim e a ele, muito embora, ele tenha demonstrado bastante interesse em conhecer-me, enviando-me todas as manhãs mensagens amorosas que me deixam segura e feliz.. Parece-me querer de verdade como sua mulherzinha, mas como afirmei á priori, não recomendável criarmos expectativas em torno...

domingo, 3 de novembro de 2013

TERCEIRO DIA DE MINHA EXPERIÊNCIA

Sábado, 02.11.2013. Terceiro dia de minha experiência. Já ingiro o aldactone sem mais problemas de irritação. O Finesterida, por ser apenas 1mg, é tão fininho que nem sinto ao ingerí-lo. Tudo pontualmente as 11 e trinta. Sigo á risca as recomendações. Pareço mesmo obstinada e sigo resoluta cada passo.
Ontem, fui dar umas voltinhas  noturnas pelo centro de minha cidade. Comprei um vestidinho preto coladinho ao corpo e um saltinho novo que combinasse com o mesmo e fui esparecer um pouco. Como era feriado do dia de finados, o centro estava devagar, com pouco fluxo de pessoas. Me encaminhei para o Porto Hidroviário que fica nas orlas da cidade, bem defronte ao Rio Negro, e lá acomodei-me para tomar um suco, sentir a brisa e contemplar o rio. Era eu e eu mesma a refletir sobre tudo pelo qual estou passando. Pela decisão que estou tomando. Pelo novo eu que está nascendo. Pela primeira vez em todos esses anos tomei uma decisão que é minha e sigo obstinada. Algo que já deveria ter feito há muitos anos, mas compreendo que tudo cabe em seu tempo. Tudo é mesmo uma questão de amadurecimento. De como vejo o mundo hoje. Não que eu me sinta capaz de enfrentá-lo. De compreende-lo. Ainda não sei. A jornada é árdua. Aprenderei tudo com esta mulher que vai nascendo dentro de mim..É um sentimento inigualável que não sei bem explicar. Olho o rio. Medito. Uma brisa seca me lambe a face. Puxo da bolsa o postal que um velho amigo chamado Júlio, me enviou por estes dias de Amsterdã. Chama-se Júlia agora e vive sua vida de mulher em Lion, Paris. Há três anos que mudou-se para lá. Ganha a vida como títere e confecciona bonecos de pano para uma companhia de Teatro. Está gora em Amsterdã curtindo suas férias. Nos conhecemos na faculdade. Eu fazia Letras e ele Artes. Lembro-me que na ocasião de sua ida, motivei-me para acompanhá-lo, e vivermos as duas este sonho na Europa. Mas as circunstâncias impediram-me de pôr em prática o tal plano, de maneira que acabei ficando por aqui e ele indo. Realizou o que queria e fico feliz por Júlio. Ou melhor, por Júlia. No fundo, não me arrependo. Como disse anteriormente, tudo ao seu tempo. Ainda não estava preparada para empreender tão audaciosa jornada. A minha luta teria que ser aqui. E ela será aqui. Este é o meu desafio. O meu Jihad...
Depois de pagar o suco que enrolei por quase uma hora, continuei minha caminhada noturna sentindo o vento malicioso acariciar-me as pernas lisas. Apesar de arrancar dos transeuntes algumas cantadas ingenuas, outras tantas estranhas e indecorosas, sinto-me incompleta. Se você que está me lendo me visse montadinha juraria também que era mulher passando e de que eu não precisaria submeter-me a esta experiência hormonal, mas não é bem assim. Sinto-me incompleta. Sinto que falta algo em mim. e vou em busca disso custe o que custar...

sábado, 2 de novembro de 2013

PLANOS PARA OUVIR RAVEL

I
Eu não perderia o concerto de Ravel por nada nesse mundo, e quando soube que a companhia de Berlim faria sua apresentação no Festival de Ópera que ocorre todos os anos em Manaus, tratei logo de reservar os meus ingressos antecipadamente. Custaram os olhos da cara - como popularmente dizem por aqui - mas que me valeriam o sacrifício e me revelariam novas surpresas. Pois bem. Já a par do ingresso, restava-me apenas preparar-me corpo e alma para assistir otal concerto que se realizaria no Teatro Amazonas, um dos teatros considerados o mais belo e portentoso da América do Sul, construído na fase áurea da Borracha, quando aqui em Manaus nadava-se em dinheiro e foram erguidos monumentos maravilhosos que ainda ostentam um certo requinte luxuoso nos trópicos.
Resolvi, porém, que iria a este evento montada como cd. Sim, montadérrima, sendo aquela, portanto, minha primeira aparição em público como mulher em um ambiente sociável onde certamente estaria a elite da sociedade Manauara. Não sou mesmo louca? Rssss... É claro que cheguei a ponderar diversas vezes acerca desta minha loucura (se seria correto ou não aquela atitude desvairada) mas ao término de minhas ponderações, resolvi que iria sim, e que não estaria fazendo nada de anormal, afinal, eu era apenas uma cidadã que estava fazendo usufruto de minha liberdade de ir e vir, como reza a constituição nesse país. E ademais, o que poderia ocorrer de constrangedor, senão alguns olhares especulativos ou algum comentário malicioso aqui ou acolá, como de fato ocorreu, mas nada que pudesse abalar minha estrutura feminina. No entanto, tudo isso me deixa pensarosa acerca dessa sociedade mesquinha e o quanto ela não evoluiu, sendo ainda capaz de guardar tanta mesquinharia e tanto preconceito.
II
Bom, na época, julho de 2011 eu estava relativamente empregada e assim pude comprar uma roupa adequada para a ocasião. Optei por um vestidinho decotado e curto cor preta, bem sensual - mas nada alarmante - um salto alto básico combinando com a cor do vestido, um colarzinho de pérola, uma bolsinha preta para realçar elegantemente com o vestido e outros acessórios básicos que não entrarei em detalhes, mas que me deixou elegantéssima, segundo uma velha amiga minha que morava ao prédio ao lado e que ajudou-me na ornamentação. Por sorte esta minha amiga trabalhava como maquiadora e graças a ela, aquela talvez tenha sido a melhor maquiagem que alguém já desdobrou-se a fazer para deixar uma cd linda e deslumbrante:
"Menina, você vai arrasar - disse Cláudia ao ver-me prontinha!"
"Ai, jura, amiga?"
"Você está linda, e não me venha de lá sem ter arranjado um gato bem bonito."
"Só vou assistir a uma ópera, amiga, não vou atrás de homem." Brinquei com ela. Descemos as escadas do prédio e ganhamos a rua. Fazia uma noite linda, estrelada. Uma leve brisa Manauara soprava de leve. Confesso que senti um tremor nas pernas e o coração começou a bater devagar querendo sair pela boca. Não sei se era por ansiedade ou nervosismo. As duas coisas talvez. Mas eu estava segura. Poderosa e segura do que eu iria fazer. Paramos um taxi. Beijei o rosto de minha amiga agradecendo mais uma vez por tudo e entrei:
"Para onde, senhorita?" Senhorita? Ele me chamou de senhorita? Que lisonjeio. Adorei.
"Para o Teatro Amazonas, meu bem."
"Pois não." Seguimos. Eu ia atrás, um pouco nervosa ainda. As mãos entrelaçadas. O motorista, um belo homem de seus quarenta e poucos anos, uma barba grossa e negra contrastando perfeitamente com o cavanhaque de macho, pude notar, ligou o rádio e uma música doce começou a tocar. Aquilo deixou-me mais relaxada. De quando em quando, o sujeito olhava pelo retrovisor, talvez querendo puxar algum assunto, mas ele apenas sorria. Esperei que ele falasse alguma coisa enquanto retocava a maquiagem no espelhinho da bolsa, mas ele limitava-se mesmo somente a olhar pelo retrovisor. Um olhar de certa forma, malicioso; um par de olhos que permutava com certa malícia e respeito. Resolvi quebrar o gelo:
"Noite agradável, hein? Será que vai chover, moço?"
"Não, não, não se preocupe. Será uma noite linda, pode ficar tranquila."
"Tem tanta certeza assim?"
"Ouvi na rádio que não vai chover."
"Ah, sim." Continuou me olhando, coçando levemente a barba. Ai ele disse.
"O que tem no Teatro Amazonas hoje? Desculpe-me a curiosidade."
"Ah, um concerto de Ravel."
"Algum cantor famoso?"
"Ravel? Ah, bom, Ravel foi um compositor e pianista francês do início do século. XX"
“Umm, a senhorita gosta de ópera, pois não?”
“Sim, sim gosto muito.”
“Nunca fui a uma ópera. Acho que dormiria, pra ser franco.”
“Não, quando se trata de um Ravel. Você iria gostar.”
“É mesmo?”
“Só precisa criar gosto para ouvir coisas diferentes, lhe asseguro.”
“Sabe, moça, gosto mesmo é de um bom pagode e de uma cervejinha.” Falara isso quando paramos em um sinal fechado. Ela já me olhava por inteira pelo retrovisor. Sua imagem lembrava-me aqueles gladiadores de arena dos tempos romanos. Algo como Macistes. Sim, um belo espécimen de macho. Precisava afastar aquelas ideias da minha cabecinha poluente e me concentrar em Ravel. Ele continuou falando. Tinha uma voz áspera e ao mesmo tempo doce.
“Conhece a Toca da Raposa?”
“An? Ai, me desculpe, estava distraída, como é?”
“Se conhece a Toca da Raposa?”
“Não, moço, não conheço. Do que se trata?”
‘É um Clube de Pagode que fica na Praça 14 de Janeiro. É bem agitado lá. E de lá que gosto. Cerveja, amigos e mulheres bonitas...hehehe.”
“Humm... que bom!”
O taxi seguia. Conversamos bastante. Ele já se mostrava bem íntimo, tratando-me por você. E todas as vezes que o carro parava embaixo de um sinal, ele relaxava os músculos poderosos, levantando os braços e expondo suas axilas peludas e negras. Fingia não notar. A descrição e minha natureza dissimulativa sempre foram minhas armas.
“Como é seu nome mesmo?” Perguntou-me.
“Márcia.  O seu?”
“Getúlio. Seu criado.” E riu gaiatamente olhando-me sério desta vez pelo retrovisor. Não vou ocultar de vocês, amado leitores, que fui tomada de grande arrepio e eletricidade pelo corpo todo. Aquele macho estava me seduzindo e, se não chegássemos tão rapidamente ao meu destino, juro que faria o jogo dele para ver no que ia dar. Mas existia Ravel.
“Chegamos, senhorita!” Perguntei-lhe o preço da corrida. Paguei e agradeci. Mas ele, para minha grata surpresa, mostrou-me o seu cartão com o número, dizendo em seguida:
“Se precisar de um motorista para levá-la de volta em casa, estou a sua disposição. É só me ligar.”
“Agradeço muito. Se precisar, ligarei sim.”
“Vou esperar, hein?” Sorri, fechando a porta devagar, ajeitando o vestidinho colado e curto. Ele não tirava os olhos de mim. Aí, aquela barba e aquele cavanhaque de homem me desejando, me querendo... Se pudesse, desistiria do meu encontro com Ravel e seguiria com aquele maciste charmoso e macho para onde quer que ele me levasse...

Mas enfim, seguimos...
 adoro este vestidinho preto, o meu preferido de sair á noite.